sexta-feira, 4 de novembro de 2011

a madrugada de Laura


Laura levantou-se pela terceira vez, naquela noite, acendeu a luz do quarto e pensou: é possível produzir alguma coisa na madrugada que não sejam pensamentos sobre o sono, as horas, o dia e a noite? É possível produzir algo na madrugada, quando o limite da visão são as paredes, o teto e a casa do vizinho no mais além da janela? É possível pensar em algo diferente do tempo nesses momentos em que ele é o protagonista da cena, atravessando os músculos do corpo e latejando por dentro da pele? Não, nada é possível em tais condições.

Laura sentiu a fome produzir outros tipos de sons no terço central de seu corpo. Encaminhou-se à cozinha, inspecionou a geladeira, tomou um pouco de suco de uva e descascou vagarosamente uma banana. Era o que tinha. A noite prolongava-se e Laura não conseguia criar nada que valesse a pena, nem mesmo uma frase de efeito para ser dita no aniversário de Anita, no dia seguinte. E por que continuar ali, rodeada de limites acimentados? Duas e quarenta da manhã. Afinal, era até bom perguntar: onde estaria Anita? A noite de sexta-feira, em certas circunstâncias, é mais longa que as demais noites. E Laura sentia na pele a longevidade daquelas horas noturnas.

Então, Laura decidiu que abriria o armário, escolheria uma roupa básica e iria à luta.

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