sábado, 18 de julho de 2015

Crítica teatral: Doidas e Santas em ótima reestreia no Imperator


No último dia 10 de julho, reestreou no Rio, no Imperator, o espetáculo Doidas e Santas, que fica na cidade até 26 de julho em curta temporada. A peça é estrelada por Cissa Guimarães, no papel de uma psicanalista em crise no casamento, e o texto de Regiana Antonini é livremente inspirado no livro homônimo de Martha Medeiros. A direção é deErnesto Piccolo e, na temporada atual, Oscar Magrini interpreta o marido da protagonista. A atriz Jose Antello, por sua vez, se desdobra interpretando a filha, a irmã e a mãe da protagonista.
No espetáculo, Cissa Guimarães está quase o tempo inteiro em cena, ora se questionando sobre a sua vida e escolhas, ora se relacionando com os outros quatro personagens: as 3 mulheres de sua família e o marido. Ela faz paralelos entre casos que atende no consultório, seus sentimentos em relação aos pacientes, mas, principalmente, ela se questiona sobre seu casamento e se pergunta se é feliz.
A comédia romântica consegue fazer a plateia rir ao retratar os tipos mais comuns de um casamento: o marido que só escuta e não quer falar, que encara a vida de modo mais simples, que talvez não seja capaz de entender por que a mulher faz tempestade em copo d’água e cuja felicidade pode se resumir a sentar no sofá e ficar com uma cerveja e um controle remoto em frente à TV, e que, além disso, acha a cunhada e a sogra um pouco doidas, tanto quanto a mulher; a esposa insatisfeita, que fala, fala, fala e não consegue obter nenhum eco de suas demandas contínuas, que não encontra respostas às suas perguntas e que talvez sequer encontre alguma consideração em relação a tudo o que verbaliza; a irmã, que mora distante e que leva uma vida completamente diferente; a filha adolescente que não tem paciência para os destemperos do casal de pais; e, finalmente, a mãe da protagonista (a sogra), que é uma figura de autoridade, imiscuindo-se na vida do casal, mas, ao mesmo tempo, demonstrando irreverência e bom humor.
É uma combinação convidativa, pois, como a protagonista diz, em certo momento, dirigindo-se à plateia, todos mais ou menos se identificam com alguma parte da história ou com alguns dos personagens. A comédia romântica é um ótimo programa de entretenimento.
Poderia ser ainda mais interessante se, intermediando as situações e algumas passagens do tempo, a protagonista não se dirigisse à plateia em tom de auto-ajuda, explicando-se e explicando a vida, o que, de certo modo, até possui o seu lugar se nos lembrarmos que a peça remete a um livro de crônicas e às reflexões que são inerentes a uma crônica como gênero literário. Entretanto, nos momentos em que Cissa Guimarães (ou Beatriz, sua personagem), reflete sozinha e ao mesmo tempo com a plateia, há ali algo de didático, como se o público precisasse de certa prótese de pensamento. Ainda que se possa deduzir ser uma referência ao livro de crônicas, talvez pudesse haver liberdade suficiente para pular esses pedaços, que se tornam excessivos na peça.
Mas os três atores estão ótimos e inspirados. Jose Antello está excelente nos papeis de irmã, filha e mãe. Cabe um destaque aqui para o momento em que interpreta a mãe de Beatriz, com suas exigências esdrúxulas quanto ao fim de sua vida. A plateia vem abaixo com seus trejeitos, maneiras de andar, tiques e com suas referências desarvoradas ao marido, já falecido. Também arranca risadas no papel da irmã, logo no início do espetáculo. Oscar Magrini também consegue arrancar risadas e aplausos, sobretudo quando, com muita dificuldade, consegue falar de seus sentimentos, o que, para o personagem, é um tremendo esforço. E Cissa Guimarães, orquestrando o vaivém de personagens e sustentando as pequenas modificações no cenário e interagindo com a plateia, explora bem a veia cômica que possui e na qual é boa.
A peça é um projeto idealizado por Cissa Guimarães, que convidou Maria Siman, da CPrimeira Página Produções para uma parceria, e seu desejo era encenar uma peça que trouxesse as questões que a atriz vive no palco através de sua personagem psicanalista: o difícil manejo de uma vida que conjuga marido, filho, família extensa, trabalho, beleza, lazer e todos os papeis que são exigidos de uma mulher. Ao fim e ao cabo, a plateia sai de alma lavada.

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