quinta-feira, 15 de maio de 2008

A vida impressionista

A vida me impunha coisas e eu tinha de agarrá-las. A vida se impunha, soturna, a vida era isso, era grande, bem maior do que eu, e eu me perdia na vida tão cheia e tão farta.

A vida trazia coisas e coisas. A vida era ávida de agitação, movimento, compromissos, acordos, decoros. A vida me impunha um ritmo que não era meu e eu tinha de adestrá-lo. A vida me empurrava ladeira abaixo e rolando eu acenava à segunda, à terça, à quarta, à sexta, ao domingo, eu acenava às tardes e às noites, eu acenava aos produtos enfileirados em cada estante e à tão tediosa programação de televisão, eu acenava ao dia das mães e ao dia dos pais e a todas as celebrações automáticas, eu acenava com dedos bem abertos, pois nada me cabia nas mãos.

Eu não cabia na vida que assim se assumia bem perto de mim, então eu caí para o lado de fora da vida, para ver o que achava por perto. Do lado de fora, espiei para dentro da vida. Dali, eu percebia bem, a vida era impressionista. Gerava bolor. Tentei me afastar apressada, aquela vida impressionista e bolorenta já crescia para cima de mim.

A vida novamente me abocanhava, me mastigava, me engolia, me digeria, voraz, atroz e sôfrega. Novamente, deslizo vida abaixo, sem freios. Sabe-se lá para onde.


2 comentários:

Mariana disse...

Gostei muito dos textos. Acho que o legal é isso mesmo, experimentar, escrever sem compromisso. Não tem graça escrever uma coisa muito elaborada em blog...
Percebi que o Vuvu aparece em quase todos os posts, reparou? ;)
Bjos!

Tati biTati disse...

Amiga, que otimo isso aqui! Que bom saber que para além e apesar de tudo você cedeu e abriu seus escritos. Adorei ler seus fragmentos de pensamentos conexos/desconexos e me reconheci muito no ultimo (numa época passada) e tenho certeza que não serei a unica.
Parabéns e "allez" !
Bjs