domingo, 24 de maio de 2009

Borrão 2

No ponto exato em que me encontro, perco-me daquilo que antes era. Pois em cada momento é-se algo e quem me contou foi Clarice Lispector. No ponto exato. Onde me perdi. Volto a me achar no momento mesmo em que escrevo o que nem sequer pensara antes. É aqui que escrevo de forma solta. Forma solta? Solta-se a forma e o que se tem é borrão. Textual. Gramatical. Liberal. Literal. Literário, quiçá. Até que se fechem os livros todos e o mundo volte a ser o que era: água, insetos, leguminosas, nuvens, gente que olhava sem ter o que dizer, sombras, pingos. No ponto exato em que me manifesto, devo mostrar o que sei. E o que sei é tudo o que não interessa saber. Vou ler na Revista algo que interesse na conversa, mesmo que se perca em todo o depois de hoje. Vou ler na Revista algo bom pra repetir e contar. No ponto exato em que viro linha, deixo de ser intervalar. E o que quero com isto aqui? Alguém poderá dizer... Alguém poderá gritar e até mesmo ser ouvido o seguinte lance sem replay: que não há moral da história, que não há informação valiosa, que não há linearidade, mas que inventamos os contornos disso tudo e nos encaixamos bem nas rotas previamente destinadas. No ponto exato. Em que me encontrei. Foi no livro entreaberto que jamais ousei fechar.

Um comentário:

Fernando Belo disse...

Tem coisa que nos inquieta, não é?