quarta-feira, 18 de novembro de 2009

inércia

Martina ficou feliz de estar naquela van. Estava quase lotada. O ar condicionado deixava o ambiente ligeiramente menos quente que do lado de fora. Ao seu lado, um homem de seus trinta e cinco anos, com uma valise sobre as pernas. Do outro lado, uma senhorinha que segurava firme nas cadeiras da frente, ao lado do motorista. Não havia barulho. Ninguém ligava para ninguém, celulares todos calados, quase um milagre. O motorista era simpático e toda vez que entrava novo passageiro ele era cortês como se aquele fosse o melhor emprego do mundo, e se o dia fosse o melhor após décadas.
Só de estar ali, junto daquelas pessoas, todas desconhecidas, com seus rumos já traçados e suas preocupações tracejando pensamentos em suas mentes incógnitas, e só de estar ali, sendo guiada, sentiu-se melhor. Eram cerca de quatro horas da tarde. O que lhe restava, naqueles cinquenta minutos ou pouco mais, era olhar o trânsito, as vias, os pedestres fazendo sinal, as passarelas, as árvores, e não pensar em mais nada. Estava sendo levada, em comunhão com outros seres, e era inerte, assim, que precisava ficar. Porque era tão trise, tão imensamente triste, perceber que não havia resposta.

Um comentário:

danielle schlossarek disse...

ônibus e vans são bons lugares para se sentir em comunhão com outras pessoas pelo simples fato de que todos estão indo para uma mesma direção. Talvez seja a única coisa em comum entre aquelas pessoas, mas é o que as mantém juntas naquela hora. Faz tempo que não me sinto assim. É simples e é bom. Diminui a tristeza, assim como a comunhão numa festa ou num jogo de futebol aumenta a alegria. Eu acho...