sexta-feira, 13 de junho de 2008

Mundos Bissextos

Em ano bissexto, bissexta me encontro. Torno-me bissexta igual a um vaga-lume. Que pisca quando quer, onde pode e quase nunca. Bissexta sou agora, pois nem sequer consigo sentir a pele sob o toque de minha própria pele. Dedos, tenho todos. Mas tato me falta. Bissexto é o ano em que procuro a mim mesma e encontro algo fácil de ser aglutinado em um conceito. Ao meu lado, nesse ônibus incerto e duro, vejo pessoas insones e bissextas. Dessas que nunca se vêem mas que possuem suas existências paralelas. Eu me ocupo de mim e os outros se ocupam de si, sem que saibamos de nossas mútuas existências. Bissextos somos uns para os outros e uma vez na vida, outra na morte, nos esbarramos pela rua, sem que nem nos reconheçamos – “ah, você é aquela que há três anos atrás tomou o mesmo ônibus que eu, saltando cinco pontos antes e que agora cruza a mesma rua que eu, indo para o lado oposto, com pressa e preocupação, eu lembro de você...”. Ninguém diz isso jamais e o reconhecimento é tão bissexto quanto um conhecimento pleno que posso ter de tudo ao meu redor. O dia 29 de fevereiro foi ontem e pude pensar naqueles que comemoraram seus aniversários apenas de quatro em quatro anos. Não têm a sorte – ou a infelicidade, para alguns trata-se de sofrimento puro – de brindar mais um ano de 365 dias em 365 dias. Esta é uma ocupação que não os visita, esses aniversariantes bissextos e raros, todo ano. E o dia 29 de fevereiro é sempre inigualável. - Todos os dias o são! – alguém objeta. Objeções que não são bissextas não merecem respeito e atenção. Continuo o pensamento. Continuo a caminhada. Bissexta que sou, desisto de pensar no assunto. É hora de enfrentar o março que se anuncia.

Um comentário:

roberto alencar disse...

Por enquanto... Permaneço desejando um dia ter sintonia mais estreita com as leis fundamentais do Cosmos, ou pelo menos conhecê-las. Ainda não entendi que estas leis são descobertas pela intuição, pelo processo de ego-esvaziamento.
Pela simplificação da vida.
Por enquanto... Permaneço enganado por mim mesmo.
Dormindo.
Sujeitos às categorias ilusórias do tempo, do espaço e da causalidade.