sexta-feira, 29 de abril de 2016

Crítica: Adélia (teatro)


Inspirado na poesia de Adélia Prado, o espetáculo Adélia, com direção de Renato Farias, vai chegando ao final de mais uma temporada no Rio de Janeiro, na Sede das Cias. Três atrizes em cena, Bela Carrijo, Fernanda Boechat e Gaby Haviaras, acolhem o público enquanto as pessoas vão chegando e se sentando, em um cenário aconchegante e intimista, rodeado por varais onde estão estendidos panos e roupas, tal qual um quintal de cidade do interior, em referência a Divinópolis, cidade natal de Adélia Prado, que completa 80 anos este ano.
Nesse começo, uma massa de bolo que está sendo preparada é oferecida àqueles que chegam e, durante o espetáculo, ela será assada e, já em formato de bolo, será novamente oferecida, ao final, à platéia. A receita foi criada especialmente para o espetáculo pelo chef Fréderic Monnier. A companhia Teatro Íntimo busca exatamente criar esse clima mais intimista, de proximidade entre atrizes e público.
Ao final da peça, ainda há lugar para uma breve e informal conversa entre elas e aqueles que querem falar. Aqui, há um trabalho da companhia de receber a platéia como se fosse uma visita conhecida e querida, como um anfitrião que zela pelo conforto dos que vêm de fora.
Os pontos altos do espetáculo são o texto poético e o cenário. As atrizes intercalam a interpretação do texto enquanto interagem com velas, candelabros, laranjas, chuchus, panos, bebidas e água. Já o cenário, assinado por Melissa Paro, e belamente realçado pela ótima iluminação de Rafael Sieg, é o responsável pelo tom de proximidade e aconchego que as atrizes constroem junto com as ofertas de cachaça e outros detalhes ao público. A temática afetiva e carregada de sensualidade e sedução do texto de Adélia é então sublinhada por todos esses aspectos que ajudam a conferir uma moldura estética agradável à encenação.
A ressalva fica para o uso do elemento água: apesar de podermos compreender a tentativa de trabalhar ao máximo os sentidos e as texturas, o texto poético inspirado em Adélia não é qualquer texto. Trata-se de poesia singela e densa, é algo que requer certa atenção, tipo de texto que, se lido em casa, exigiria algumas pausas para imersão, e que transita entre uma ironia debochada bem-vinda e momentos mais sofisticados de uso da linguagem.
Acontece que o cenário já traz uma quantidade de informação considerável e o uso da água em cena acaba exagerado, resultando em estímulos em demasia. Perde-se um pouco da atenção necessária ao texto, e a água, além disso, acaba por tornar o cenário, que trazia uma harmonia aconchegante inicialmente, um pouco caótico ao final de tudo.
A peça fica em cartaz até 25 de abril.

FICHA TÉCNICA

Direção: Renato Farias
Elenco: Bela Carrijo, Fernanda Boechat e Gaby Haviaras
Direção de Arte/Palco: Thiago Mendonça
Cenário: Melissa Paro
Iluminação: Rafael Sieg
Trilha original: Rafael de Barros de Castro
Produção: Gaby Haviaras
Fotos: Carol Beiriz
Visagismo: Ezequiel Blanc
Assessoria de Imprensa: Gabriel Mello

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