sábado, 19 de dezembro de 2009

palavras cuspidas

Seis e cinquenta da manhã. Mentira. Seis e quarenta e nove da manhã.
O que ela sentia era tristeza. Olhava ao redor e pensava: não, não é possível. Não me encaixo em nada disso. Não faço parte. Estou boiando fora de todas as partículas que ficam bem quando juntas (e sempre estão juntas). Seis e cinquenta e um. E ela não sabia se ainda não havia dormido ou se já tinha acordado. Sua vontade era tomar café. E recuperar todas as horas perdidas em noites mal-dormidas e palavras cuspidas em copos de cerveja. Ela não gostava de nada daquilo. Do que ela gostava? De ficar sozinha. De silêncio. De algazarra de cinco ou seis, talvez, mas cinco ou seis velhos amigos. Aqueles em quem podia confiar. Aqueles que patinavam em afinidades parecidas. Mas e essa gente toda que fala com você em uma noite e não traz um brilho diferente, uma pensamento novo, um sacolejo que desconstrua e reconstrua alguma estrutura falsa em você? Uma piada engraçada e nem isso e nem nada e nem tchum. E essa gente toda? E ela nessa gente toda? Seis e cinquenta e quatro. O que sentia era tristeza endurecida, era lágrima solidificada, era não saber mais o sentido. O sentido. Resolveu esparramar-se na cama. E quem sabe recomeçar, antes que o ano acabasse.

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