sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Um mês e meio - parte 4 - novo título agora: um mês depois!

(Continuação da postagem de 3 de dezembro de 2008)

Apesar de toda a gana e nervosismo e aflição de Beatriz para confirmar, através de algum objeto específico no mundo (de preferência objeto dotado de alguma concretude) o que dizia sua intuição, ou sua vozinha interior, ou sua avózinha interior, ou sei lá o quê que cismava que 2009 ia ser 'O Ano', ou ainda, 'O ANO!', ela custou muito a ligar para os astrólogos cujos telefones todas as suas amigas haviam cedido. O objeto específico que confirmaria que a sua avózinha interior dizia que 2009 ia ser no mínimo sensacional era mesmo um mapa astral. Mas tinha todo aquele pensamento de Beatriz de que esse negócio de quiromancia, numerologia, astrologia, búzios e seus consortes que buscavam prever o futuro tinham muito mais de falácia e sugestão do que qualquer outra coisa. Ia depender da gradação do caráter do profissional e da gradação da crença daquele que buscava uma resposta para as questões insondáveis da existência. O fato é que Beatriz não tinha uma questão insondável de existência para sanar com o astrólogo. Quer dizer, o fato mesmo é que Beatriz tinha uma série interminável e intragável de questões insondáveis e inacabáveis de existência, mas agora o que estava na bola da vez era a do ano de 2009. E que não era bem uma questão. Era uma intuição. Ou um pensamento. Uma frase que ia e vinha, que repercutia em ondas de alegria e que, vez ou outra, gerava até um certo tipo de arrepio benigno com direito a tremelique de êxtase e tudo! A frase continuava sendo aquela: 2009 vai ser muito bom. Sendo que a tal da frase também tinha variações: 2009 vai ser o ano da virada. Beatriz até se perguntava que virada podia ser aquela. Mas a palavra 'virada', por si só, já tinha um tom de espetacular tão incorrigível que permitia reduzir-se a ela mesma, sem carecer de interpretações, especulações, hermenêutica. Só que uma questão se interpunha: e agora pra vencer aquele seu ceticismo em relação a mapas astrais? Luísa e Roberta já haviam dado uns números e tanto Beatriz enrolou que o ano rompeu, passara-se um mês, vinha fevereiro e nada de ela procurar um astrólogo. O que ela queria não era responder uma questão. Não era pergunta. Não era dúvida. Não era incerteza. O que ela queria era uma confirmação de sua frase interior, ou pensamento interior, ou voz interior, ou avózinha interior de que, de fato, 2009 traria uma coisa muito boa. Era só o que queria, mas tinha medo. Medo de que aquilo de ir pro astrólogo a influenciasse de um tal modo que ela de fato fizesse tudo para que 2009 fosse mesmo O ANO. Seria a contaminação de sua vida pelas palavras do astrólogo... Mas, se fosse assim, ela não estaria no lucro do mesmo jeito???

(continua, eu juro...)

Nenhum comentário: