terça-feira, 30 de setembro de 2014

Festival do Rio: Ela perdeu o controle (She's lost control) - crítica


Ela perdeu o controle (She’s lost control) não é um filme sobre a banda Joy Division, antes que alguém pergunte. Inclusive, na exibição de sábado à noite no Festival do Rio, ao ser perguntada sobre o que a motivou a fazer o filme, a diretora Anja Marquardt não citou a banda inglesa, nem a música homônima. O filme trata de Ronah, espécie de “profissional da intimidade”, cuja função é ajudar seus clientes (pacientes?) na aprendizagem de habilidades de se relacionar amorosamente, chegando às vias de fato (sexuais) com seus clientes, encaminhados por um supervisor que supostamente conhece a fundo as dificuldades psicológicas, emocionais e comportamentais de cada um deles. Ronah mora de aluguel em um apartamento com problemas de encanamento e infiltração, está fazendo seu mestrado em Behaviorismo(Psicologia Comportamental) e não tem amigos. Ela, cuja ocupação profissional é ajudar os clientes a desenvolver habilidades de relacionamento íntimo, não parece por sua vez ter nenhum relacionamento desse tipo e, quando quer uma companhia para o jantar, é à vizinha que recorre.

Continue lendo a crítica na Revista Ambrosia.

sábado, 20 de setembro de 2014

Antes de o mundo acabar, Vivian Pizzinga lê O Explicador, de Leonardo Villa-Forte (resenha)



Antes de o mundo acabar, é preciso pegar um livro de contos recente, esse O Explicador, do Leonardo Villa-Forte, lançado pela Editora Oito e Meio, e ler de um fôlego só. Antes de o mundo acabar é preciso também agradecer a existência de uma editora que dá oportunidade a novos autores de lançarem seus textos e algumas preciosidades literárias, preciosidades essas que, desconfio, não ganhariam o terreno do mundo tão logo. Antes de o mundo acabar, é preciso ler o conto que fecha O Explicador, Notícias de antes do fim, que nos pega pela mão numa jornada de cenas e acontecimentos que se dão antes do fim do mundo e que, consequentemente, nos impelem a um jogo mental bem típico de obsessivos – um labirinto tortuoso e prazeroso – de hipóteses a respeito do fim. Mas, antes de o mundo acabar, é preciso ler também os contos A mulher que não soube fantasiar, O batismo do objeto ou Comunicação, para pinçar alguns num jogo de menções honrosas difíceis de destacar.

Bem, eu queria ter lido antes o primeiro livro do Leonardo Villa-Forte, mas só pude agora. E aí vem o espanto quando me dou conta de que este é o primeiro livro do autor. A maturidade da linguagem, a maneira como aborda os temas escolhidos para seus contos e os projetos literários que vem criando talvez tenham incutido em mim a certeza de que O Explicador era, no mínimo, o segundo livro de Leonardo Villa-Forte (ah, essas certezas psicóticas que abalam a convicção de normalidade de uma neurótica como eu... De onde tirei a certeza de que esse livro seria o segundo do autor, nem mesmo minha analista seria capaz de explicar). Mas, não, é o primeiro. Antes disso, vieram tantas coisas que vou destacar apenas duas: a premiação de Villa-Forte no Prêmio Off-FLIP de contos e o belíssimo Paginário, intervenção urbana que espalha pela cidade (e além dela, há Paginário em Petrópolis também!) trechos literários escolhidos por autores diversos. Aliás, antes de o mundo acabar, é preciso conferir um desses Paginários.

Como diz Paulo Scott na orelha do livro, Villa-Forte trata das “funções e disfunções da existência humana, das suas percepções variadas, da sua inclusão inevitável na mecânica dos relacionamentos e rotinas”, e é exatamente isso. É como se Villa-Forte escolhesse situações e impasses para tratá-los de modo cru, sem abrir mão, contudo e ainda bem, de conduzir o leitor por uma história interessante, no que tem de metafórica e de realista a um só tempo. 

Afinal, quem nunca se viu perplexo diante de um informe ou de uma dizer publicitário, ficou pensando sobre aquilo e se imaginou tratando longamente do assunto com quem de direito? Esse é o caso do cliente do restaurante vegetariano, amofinado com a placa que diz que “a verdade está no verde” e que não se furta a esmiuçar a questão com o gerente, no conto Peça Publicitária. Por outro lado, no conto Necessita-se de Profissional do Medo, título por si só instigante, as verdades são colocadas na mesa e ninguém finge intenções outras: o comunicado e o pedido são claros, contrata-se o funcionário que tem tudo para dar certo na empresa, e seu requisito essencial (o título já nos diz qual seria) é o que garantirá a sua permanência no emprego. Já O Explicador, conto que dá nome ao livro, trata desse problema crucial do homem que se faz ausente nas ocasiões em que sua presença é esperada. “- Querem ou não querem que eu explique os motivos dele não vir quando é chamado?”, é o que tenta o explicador, mas a tarefa é árdua, o assunto é espinhoso, os ânimos estão aflorados e a comunicação ganha aí seus maiores ruídos. Assim é a narrativa de Leonardo Villa-Forte: acentos irônicos e personagens ao mesmo tempo inocentes e perspicazes, insistentes e cismados, que se deparam constantemente com os absurdos das rotinas, dos hábitos, das instituições.

Quando dou por mim, o livro vai chegando ao seu final. Concluo, então, que antes de o mundo acabar é preciso terminar o livro e, se der tempo, reler alguns contos. Em voz alta, de preferência.