sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Elisa, chegando em casa
Elisa, voltando a casa.
Seu humor, extenuado.
Seu pensamento, embaraçado.
Seu passo, desengonçado.
Queria banho, água, queria lanche, lençol macio.
Elisa, olhando em volta.
Sua vida, desenxabida.
Seu trâmite, desgovernado.
Sua aposta, enviesada.
Gostava de imaginar que o futuro de todos era previsível.
Aquelas pessoas, desenfreadas;
outros passantes, desmantelados.
Teriam todos o mesmo fim:
doença, dor ou acidente.
Todos, desfigurados.
Elisa, vagando etérea.
Cansada, achava graça.
Da corrida, ensandecida.
Dos planos, apatetados.
Do fim, igualitário.
O advogado amarronzado. O médico esbranquiçado. O pedreiro acinzentado. A grávida avermelhada.
Após anos, desmiolados.
Escapatória, não havia uma.
Elisa sabia bem:
acabariam todos
deitados, torcidos,
doídos.
Elisa, chegando em casa.
Cansada, tirando o salto.
O fogão, o chuveiro, a cama
A vida
O lençol macio.
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