sábado, 26 de abril de 2014

sublingual


ela achava que sabia. mas só naqueles dias descobriu o que era dor. pensava em yuka, contava o tempo de um modo inaugural em sua vida, quanto faltava para completar as malditas 12h, a próxima dose do remédio. nunca olhara um analgésico com tanta gratidão. não tivera dor de dente, desconhecia dor de parto, e o quinto metatarso que quebrara em 98 era já café com leite. pensava em yuka, yuka, yuka, sentia a presença do corpo latejando nas frinchas da pele, pensava: eu tenho um corpo, pensava: que horas são, pensava: eu tenho mesmo um corpo, não é que ele está aqui?, coincide comigo, yuka, yuka, já tá na hora, comprimido ou sublingual? queria ambos.

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