Grand Théâtre Pão e Circo, peça em cartaz durante este mês de maio no aconchegante Teatro da Sede das Cias, na Escadaria do Selarón, no bairro da Lapa, é um espetáculo. E isso não apenas por ser baseada no texto crítico de Guy Debord, o clássico A Sociedade do Espetáculo.
A peça começa com um grande alarido, uma sacudidela que inaugura os primeiros momentos do espetáculo, colocando a platéia pronta para um mergulho nas imagens projetadas no palco e para o monólogo que alterna diversas vozes e perspectivas na excelente atuação da atriz Carol Kahro, que é também a diretora e roteirista. A partir daí, tudo é irreversível: o texto, forte, nos coloca o tempo inteiro em frente a nós mesmos, porque nós mesmos somos os outros, nós mesmos somos cada um de nós, nós mesmos somos aquilo que não queremos ver de nós mesmos, nós mesmos somos Madalena, Zé Felipe, Das Dores, Carol, Marcelo, Eliesér e até Sílvio Santos nos recortes audiovisuais projetados nas telas espalhadas no cenário, nós mesmos somos o que é possível e, sobretudo, somos os componentes dessa sociedade imagética que, cada vez mais, se sustenta em eventos espetaculares (e especulares) do belo e do horrível, do espantoso e do insípido. Cada vez mais, trata-se, esse “nós mesmos” dificílimo de definir e resumir, de uma trilha de selfies onde todos viram celebridades de seus próprios mundos, onde suas biografias, editadas nas redes sociais, têm todo o brilho que a lente de um filtro do instagram ajuda a conferir nessa fuga desesperada da monotonia, do tédio e da solidão.
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