Ela estava sentada na sala no escuro sabendo de tudo silente cansada na sala sentada sentindo saudade no escuro silente da sala que mente que é bela que é doida que é forte na sala sentindo o cheiro de sal na salada sadia do almoço tardio. Na sala, ela, sozinha, silente, no escuro, pensava em ciladas... Com medo de tudo no escuro as sombras com medo do nada de si e do mundo com medo de ter que ouvir que a sala despenca no mundo. Cilada. Na sala. Sentada. Sozinha. Longínqua. A tarde que é longa cansada na sala e ela sozinha sensata no mundo. Sem papo sem tato e afago na sala de cores tão ralas. Lembrando da mala aberta de pó e poeira, na sala vazia. Ela sozinha silente sedenta santinha. Na sala sangrava de tanto sonhar, de tanto calar... no escuro.
(Texto publicado no Jornal Plástico Bolha em 2008 ou 2009 - quando mesmo? - e escrito em 2001.)
Um comentário:
Fiquei lendo em voz alta esse conto! Um ritmo meio alucinante, meio vertiginoso. "Na sala sangrava de tanto sonhar", adorei essa imagem!
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