quarta-feira, 4 de julho de 2012

A primeira metade




Quando chegava o dia primeiro de julho de qualquer ano, Joaninha assustava-se um pouco e se dava conta de si, de modo a apurar o olfato e entender o cheiro que saía de seus pulsos, de modo a mirar no espelho sem pressa e contar os novos fios de cabelo branco despontando no alto de sua cabeleira grisácea, de modo a também medir a altura e ver se se curvara ainda mais ou não, de modo a contabilizar os progressos feitos, apalpar as próprias mãos, conferindo os calos novos e os antigos. Fosse o ano par, fosse o ano ímpar, quando chegava o primeiro de julho, Joaninha sempre interrompia a marcha, deitava-se na primeira pausa para respirar, se houvesse alguma, e se concentrava na ida e na vinda da respiração, nos movimentos torácicos, e se sobrasse tempo piscava várias vezes para se certificar de que seus olhos continuavam vendo o que sempre viam e se a lubrificação daquele globo ocular às vezes ardido, às vezes suave, estava ok. O primeiro de julho não passava em branco, e ela dizia a si mesma: foi-se, então, uma metade, falta a outra. E era como um novo mezzo-revéillon, quando então Joaninha elaborava a lista do que faltava e a lista do que já se resolvera, abria e fechava as mãos, no intuito aumentar a elasticidade das garras e, com isso, segurar fôlego extra, e continuar a caminhada até a próxima pausa do cafezinho.

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