Deise relê antigos textos. Cadernos de outras eras, ausência
de pontos finais, manchas de café ou lágrima. Está sozinha em seu quarto e sala
na Rua dos Inválidos. Abre gavetas, na esperança de achar uma novidade também
antiga. Anda pela casa, que não é tão grande assim. Sente o chão frio e limpo,
a primavera entra pelos pés, a cidade é transparente nessa época. Vai à
cozinha, olha indecisa ao seu redor. Sai de lá vencida. A cama a espera também.
Um livro que ainda não chegou à metade aguarda sereno. Tudo ao redor demonstra
paciência infinita. Esconde todos os calendários da casa, a época é propícia à
perdição. Lê durante uma ou duas horas algo que não escreveu e sente saudades
de digitar um refogado qualquer de palavras que sirva de criação para a tarde
alargada. Vai novamente às gavetas, especula os armários, a inquietude
transpira junto com o suor. Deise procura outros textos que não parecem seus.
Aqui, ali, acolá. Em silêncio, de preferência. Faz circunvoluções ao redor de
seu próprio eixo e retorna ao ponto de partida.
2 comentários:
SUPER IDENTIFICAÇÃO!
LINDO!
Vivian, estou levando seu texto para postar na Academia Virtual de Escritores Clandestinos (no facebook). Um abraço
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