terça-feira, 28 de julho de 2015

imbróglio

Ela diz que gosta dele mas o sacaneia a torto e a direito. Ele sabe. Ele deixa. Ele quer? Ele diz que gosta dela mas já não sabe dizer se ele é ele ou se é seu sintoma. Os dois dizem se amar, e se dizem a si mesmos, sem voz rouca, talvez um hálito de hortelã daqui, um bafo de cigarro barato de lá, mas são infelizes pra burro, pra jegue, pra lesma, pra nesga de alegria que, oh sim, já tiveram mas já não sabem onde mesmo foi parar. E mesmo que a lanterna ilumine muito o outro lado, muito o avesso, qualquer bem-estar sofre o desterro provocado por uma raiva engatilhada. Ela precisa da segurança que ele lhe dá, ele... Ele não se sabe. E nunca foi fácil sabê-lo, artífice excruciante de labirintos de si. E há nisso tudo um terceiro, um quarto e um quinto que mais ou menos assistem de camarote e sabem o fim da história. O terceiro é protagonista junto com os dois primeiros, o quarto sofre seus abalos, o quinto simplesmente deu azar. É o que menos queria saber e é justo aquele que não pode deixar visíveis suas lágrimas legítimas e mofadas. São lágrimas antigas, essas, são lágrimas risíveis, cobertas de um anacronismo espantoso. São lágrimas que já desbotaram, e cheiram mal, muito mal.

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