sexta-feira, 29 de abril de 2016

Crítica: A cuíca do Laurindo (teatro)


Em 1935, Noel Rosa criou o personagem Laurindo na letra de seu samba Triste Cuíca e, posteriormente, outros sambistas de peso, como Herivelto Martins, Wilson Baptista eHeitor dos Prazeres, lançaram mão do personagem em suas composições. Laurindo então ganhou vida e, aproveitando a ideia e enriquecendo mais ainda a história iniciada por Noel Rosa, Rodrigo Alzuguir idealizou e montou a comédia musical A cuíca do Laurindo, em cartaz no Teatro I do CCBB até 15 de maio. Alzuguir também assina o texto, a dramaturgia e faz parte do elenco da peça, que tem como pano de fundo a fictícia Lira do Amor, escola de samba do morro da Mangueira, no Rio de Janeiro da década de 40.
Trata-se de um musical delicioso, com bela direção de Sidnei Cruz e direção musical deLuis Barcelos. Nele, acompanhamos a trama e as reviravoltas que envolvem os vários personagens em torno do cuiqueiro Laurindo, companheiro de Zizica e presidente da dita escola de samba do morro da Mangueira. Os personagens que compõem o espetáculo foram retirados do anedotário e de letras de samba do período. Esse é o caso do personagem Dodô, braço-direito de Laurindo, citado no samba Desperta, Dodô, de Herivelto Martins, interpretado pelo cantor e compositor Marcos Sacramento.
O enredo, com suas intrigas, paixões, brigas, revelações, alianças e deslealdades, é pontuado por quarenta canções interpretadas pelos atores com um conjunto de cinco músicos permanentemente ao fundo do palco: Yuri Villar, Luis Barcelos, Magno Julio, Marcus Thadeu e Rafael Mallmith. É importante frisar que músicos e atores estão excelentes, com destaque para o próprio Rodrigo Alzuguir e também para Hugo Germano, engraçadíssimo no papel de Tião e em suas demais aparições no palco, dono de uma energia que parece inesgotável. Completam o elenco Alexandre Moreno, Vilma Melo, Claudia Ventura e Nina Wirtti, todos inspiradíssimos.
O texto consegue manter o interesse da plateia pelos personagens cativantes, de modo a intercalar com propriedade os sambas elencados para o espetáculo, além de trazer o contexto da época em que a história se passa, em meio à Segunda Guerra Mundial,  e fazendo alusão às próprias mudanças no carnaval carioca e nas escolas de samba, que passaram a ficar cada vez maiores, com exigências típicas de espetáculo turístico: carros alegóricos imensos, exigindo paulatinamente modificações no próprio andamento dos sambas. O personagem de Laurindo mostra sua insatisfação com essa mudança, festejada pelos demais.
O cenário de José Dias reproduz as subidas íngremes, escadarias e vielas do morro e merece destaque, permitindo diversos ambientes e favorecendo a dinâmica da movimentação dos personagens pelo palco. A iluminação de Aurélio de Simoni também está excelente, e esse conjunto, somado aos figurinos caprichados assinados por Flavio Souza, torna o espetáculo um deleite não apenas para os ouvidos, no caso de quem gosta de samba, mas também para os olhos. Quando as cortinas se abrem, já temos uma imagem belíssima dos atores em cena junto aos músicos.
O único senão a ser apontado é que, apesar de não comprometer a qualidade tanto do texto quanto da trama, o espetáculo acaba ficando um pouco longo. Acredito que algumas músicas a menos, principalmente no final, poderiam torná-lo mais enxuto e no ponto certo, sem provocar nenhum tipo de desfalque no entendimento da história. A despeito disso, para quem gosta de samba e de musical, o espetáculo é um ótimo programa.
Ficha Técnica
Idealização e texto: Rodrigo Alzuguir
Direção: Sidnei Cruz
Cenário: José Dias
Figurinos: Flavio Souza
Iluminação: Aurélio de Simoni
Direção musical: Luis Barcelos
Direção de movimento e Preparação Corporal: Ana Paula Bouzas
Preparação Vocal: Marcelo Rodolfo
Elenco: Alexandre Moreno, Vilma Melo, Claudia Ventura, Marcos Sacramento, Rodrigo Alzuguir, Hugo Germano e Nina Wirtti
Músicos: Yuri Villar, Luis Barcelos, Magno Julio, Marcus Thadeu e Rafael Mallmith
Assistente de direção: Patrícia Zampiroli
Coordenação de Projeto: Carol Miranda
Direção de Produção: Ana Lelis e Marcelo Mucida
Produção Executiva: Joana D’Aguiar – Sopro Escritório de Cultura
Assistente de Produção: Renata Celidônio
Realização: Marraio Cultural

SERVIÇO
Espetáculo: A cuíca do Laurindo 
Temporada: 24 de março a 15 de maio de 2016
Dias e horários: Quarta a domingo, às 19h
Local: CCBB Rio – Teatro 1 (Rua Primeiro de Março 66 – Centro)
Capacidade: 175 lugares
Classificação indicativa: 12 anos
Gênero: Comédia musical

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