quarta-feira, 8 de maio de 2013

Votação

Hoje eu fiquei feliz e fiquei triste, ou vice-versa. Triste por ter visto a primeira votação fazer passar o projeto de lei que cria uma empresa pública para gerir a saúde do município do Rio. Ainda que se esteja falando de empresa pública e, portanto, de administração indireta, estamos falando de saúde e estamos falando de um setor da vida e da administração pública onde temos servidores públicos concursados, estatutários, com estabilidade, que dão duro e que podem ir à Câmara Municipal ou se manifestar contra certas diretrizes políticas sem medo de perseguição, sem medo de perder o emprego. Estamos falando de saúde, em que as políticas públicas são debatidas e construídas diariamente, e onde o medo de perder o emprego, de não ter estabilidade, pode aquietar e calar as pessoas. Fiquei triste por ver que a lógica que rege a votação são interesses nada públicos. Fiquei triste por perceber a apatia de muita gente que poderia estar ali, por exemplo, ou divulgando mais esse absurdo que está acontecendo. Em vez de injetarem recursos e investimentos na saúde, deixam-na padecer, deixam-na à míngua, deixam a saúde sem saúde, com o perdão do trocadilho, e assim pode-se falar mal da saúde pública, pode-se dizer que não funciona, não é assim que fazem com as universidades públicas? (No primeiro provão em que a Psicologia fez parte, a UFRJ foi a única faculdade de psicologia que tirou A no Provão, não houve pra ninguém, não houve pra nenhuma faculdade particular, apesar de falarem mal da greve dos professores - isso é um exemplo.) Sim, falem mal do SUS, ele tem muito que melhorar, mas antes de 1988, quem não tinha carteira assinada não podia se consultar em um posto de sáude, não poderia fazer um tratamento contra o câncer, no INCA, por exemplo. Será que a maneira de melhorar as coisas é privatizar? Será que uma empresa pública é a melhor opção para a gestão da saúde? Porque saúde não é BANCO, saúde não é empresa que regula energia, petróleo, SAÚDE NÃO DÁ LUCRO, NÃO É PARA DAR LUCRO, e isso é bom. Que um BNDES, um BB, uma Eletrobrás sejam geridas pela administração indireta, com servidores celetistas, vá lá, mas a saúde, a educação? Mas hoje fiquei feliz também. Feliz de conseguir deixar algumas coisas da minha vida pessoal de lado para acompanhar a votação que aconteceu na Câmara Municipal, poder ver direitinho os discursos e os votos, poder estar perto, virar de costas quando de certos discursos demagogos e horripilantes e apavorantes, poder gritar contra a demagogia. Se houvesse mais gente lá, o constrangimento desses vereadores que deveriam nos representar seria maior e a votação não passaria, não aconteceria. Então, posso dizer que hoje meu dia valeu a pena.

Nenhum comentário: