Neil Laboute é o autor desse Marco Zero, peça cuja história se passa em Nova Iorque, com pano de fundo do fatídico 11 de setembro de 2001. O elenco é composto por Tarik Puggina e Letícia Isnard, atores que fazem parte da premiada companhia Os Dezequilibrados e que vivem um casal
em conflito, um casal que precisa tomar uma decisão e discutir sobre a sua vida
a dois. Essa discussão, no entanto, se dá exatamente nesse dia que ficou
marcado na história mundial e, sobretudo, na dos americanos. Não é um dia
qualquer e há, no texto, um entrelaçamento entre o drama pessoal dos
protagonistas e a tragédia que acomete o planeta. O cerne da questão são os
rumos que se seguirão a partir dos impasses individuais e coletivos. É preciso
pensar neles com cautela. A fraqueza humana, as escolhas anteriores, as futuras, o horror diante do que fazemos para nos defendermos de um sofrimento possível, tudo
isso está em pauta.
Laboute, no texto que nos é disponibilizado no
programa da peça, diz que “Em Marco Zero (The
Mercy Seat) estou tentando examinar o ‘marco zero’ de nossas vidas, aquele
buraco em nós que tentamos tapar com roupas da GAP, (...) com bolsas de mão da
Kate Spade”. Isso foi escrito em 2002 e talvez pudéssemos traduzir essas tampas
e remendos para selfies nas redes sociais, fotos e mais fotos no instagram e
overdose de afazeres alegres nas folgas e nos finais de semana. Em Marco Zero,
há uma pergunta crucial, como nos aponta o autor: “Por que estamos tão
dispostos a correr cem quilômetros pra fugir de simplesmente dizer a alguém,
‘eu não sei se te amo mais’?”.
O espetáculo, em
cartaz no Teatro de Arena da Caixa
Cultural, tem direção de Ivan
Sugahara e co-direção de Simone
Beghinni. A tradução é de Gustavo Klein e a idealização é de Tárik Puggina. Tárik vem
pesquisando, desde 2010, textos e autores contemporâneos que tragam
questionamentos sobre certos ‘ismos’, tais como o individualismo, o consumismo,
o egoísmo. Seu personagem, Ben Harcourt,
talvez seja um emblema de tal individualismo exacerbado em meio ao caos de um
momento único e crítico da contemporaneidade.
O cenário, muito
interessante, é um cômodo do apartamento da personagem vivida por Letícia
Isnard. Aurora dos Campos consegue
transpor para esse cômodo a devastação que parece ter tomado conta tanto da
cidade quanto das vidas dos protagonistas, que não sabem mais o que fazer delas.
A poeira que toma conta dos objetos e móveis, e que parece vir das explosões
nas imediações, também lembram a máxima segundo a qual “varremos a poeira para
debaixo do tapete”. Nesse caso, a poeira não cabe mais debaixo do tapete (e há
um tapete mesmo no centro do cenário), ela escapa e recobre tudo. Há mais
poeira do que todo o resto.
Letícia Isnard está ótima na interpretação
de Abby Prescott, uma personagem que
está cansada da própria vida e das mentiras que se vê obrigada a sustentar. Há
alguns anos ela tem perguntas que não consegue formular, respostas que talvez
tenha medo de ouvir, mas é justamente quando tudo vem abaixo (literalmente) que
ela vai, com revolta e mágoa, colocando as cartas na mesa. Assim, o texto e o
diálogo da peça vão crescendo, na medida em que vai ficando claro que relação é
essa que os protagonistas mantêm e na medida também em que vai ficando clara a
dinâmica que move seu relacionamento.
FICHA TÉCNICA
Texto: Neil Labute
Tradução: Gustavo Klein
Direção: Ivan Sugahara
Co-direção: Simone Beghinni
Elenco: Leticia Isnard e Tárik Puggina
Direção
de produção: Aline Mohamad
Produção
executiva: Amora Xavier
Cenário: Aurora dos Campos
Figurino: Flávio Souza
Direção
musical: Rodrigo Lima
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Fotos: Dalton Valério
Marketing
Digital: Laura Limp
Projeto
gráfico: Luciano Cian
Administração
financeira: Amanda Cezarina
Realização: Nevaxca Produções
Idealização: Tárik Puggina
SERVIÇO
Temporada:
27 de novembro a 20 de dezembro
Local:
Caixa Cultural Rio de Janeiro – Teatro
de Arena (Av. Almirante Barroso, 25 - Centro)
Telefone:
(21) 3980-3815
Horário:
terça a domingo, às 19h. Em dezembro, sessão extra nos dias 12 e 19 (sábado), às 17h.
Ingressos:
R$20,00
Gênero:
Drama
Duração:
75 minutos
Capacidade:
170 lugares
Classificação:
16 anos
Bilheteria:
a partir das 10h
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