Viver é fácil com os olhos fechados (Vivir és fácil con los ojos cerrados) é um simpático roadmovie que faz uma homenagem aos Beatles, ao John Lennon e à música Strawberry Fields.
David Trueba, diretor e roteirista, aproveitou um fato real, que foi a ida de John Lennon a Almería, em 1966, gravar Oh! Que delícia de guerra, de David Lester, e criou o mote do filme, que trata de um professor de inglês, apaixonado pelos Beatles, que usa suas letras para dar aulas de inglês, e que resolve ir até esse povoado, no sul da Espanha, para tentar encontrar o beatle. Consta que teria sido nesse período em que John Lennon criou a música Strawberry Fields, o que é bem aproveitado pelo diretor e, como se vê, um dos versos da música dá título ao filme.
Javier Cámara, excelente no papel do professor beatlemaníaco, solitário e cultivando sonhos muito particulares, sensível e engraçado, esbanjando afetividade sem ser piegas ou pegajoso, parte de carro e, pelo caminho, encontra os outros personagens que dividirão a aventura com ele: a jovem Belén (Natalia de Molina), que leva consigo um segredo, e Juanjo (Francesc Colomer, em seu terceiro longa), um adolescente de 16 anos que resolve romper com sua vida anterior.
Chegam a Almería e lá encontram outros personagens, cada um carregando sua própria solidão: o dono do restaurante que espera sua mulher, e o filho, que tem uma síndrome que o pai desconhece porque saber o nome “não vai curá-lo”. Trata-se de um encontro de cinco solidões com a própria solidão de John Lennon, já que o personagem de Javier Cámara, no início do filme, interpreta a música Help!, para os alunos, como sendo a expressão do que seria a solidão do sucesso.
O professor Antonio é solitário porque “de tanto conviver com crianças, deixou de entender o mundo dos adultos”, Juanjo é solitário porque não encontra acolhimento em sua família, Belén é solitária porque seu segrego a condena, e John Lennon também é solitário, extremamente solitário, como refletem os versos de suas canções.
Viver é fácil com os olhos fechados estreou em 2013 na Espanha e chega ao Brasil dois anos depois. Para quem gosta dos Beatles, é um deleite poder ver um personagem que reflete a paixão e admiração pela banda, o amor infinito por um artista e aquilo que a arte pode provocar. Por outro lado, trata-se de um roadmovie que, ainda que com boas atuações e direção, não deixa de ser água com açúcar, propício para as tardes em que se busca a leveza.
Leia esta resenha em Ambrosia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário