sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Teatro: As lágrimas quentes de amor que só meu secador sabe enxugar


Estreou no Rio a temporada carioca da ótima peça estrelada por Paula Cohen, As lágrimas quentes de amor que só meu secador sabe enxugar. A temporada na cidade é curta: de a 24 de outubro, no Teatro do Leblon. Paula Cohen está hilária no papel de Elvira, uma atriz que volta para o país após uma desilusão amorosa e deve reconstruir sua vida. A peça vem de São Paulo após uma temporada bem-sucedida e aporta na cidade com suas ironias e observações afiadas sobre a condição da mulher e sua inserção na contemporaneidade.
O texto, escrito a quatro mãos pela atriz e pelo diretor Pedro Granato, é inteligente e bem-humorado. E esse é o maior trunfo da peça, junto com a atuação carismática de Paula, que conquista o público aos poucos até que, ao final, está com ele aos seus pés. E por que digo que esse texto inteligente e bem-humorado é o maior trunfo da peça?
Simples: a temática proposta pelo espetáculo não é nova. Uma mulher contemporânea em crise, obrigada a pensar em sua vida por força de um casamento que não deu certo. Para viver esse amor, ela deixou de lado carreira, família, amigos e língua natal, abdicou de coisas importantes em sua vida e agora deve regressar a contragosto. Está ressentida com tudo e se mostra descompensada em uma série de situações e em encontros com personagens variados (também vividos pela atriz), como a mãe e suas lembranças inconvenientes de que tem um ‘ventre’ e de que o tempo passa, ou ainda a amiga infeliz que avalia o tamanho de seu novo apartamento e admite que ter filhos é uma derrocada na vida da mulher, o que não necessariamente acontece na vida do homem.
Assim, a peça gira em torno dessa mulher em crise que deve retomar e refazer sua vida, a despeito do que as pressões culturais dela exigem. A temática, portanto, não é mesmo original, mas o texto e a maneira como é trabalhada nesse espetáculo são brilhantes e é exatamente isso o que faz valer a pena assisti-lo: pequenas verdades e pérolas hilárias permeiam o texto do início ao fim e a trama que a dupla atriz-diretor-autores nos apresenta com humor e leveza ainda assim são um espelho importante de nossos tempos, o que faz com que o teatro cumpra com primor, nessa As lágrimas quentes…, uma de suas principais funções: ser um testemunho e um relato de nosso tempo.
Exemplos de pérolas e momentos hilários na peça são a constatação de que “o porteiro é o superego da mulher solteira”, além de “quase um vidente”, ou a ideia de que a felicidade é como um strobo , isto é, a felicidade, como conceito, não passa de algo que apenas dá uma piscadela pra gente (nada mais efêmero, nada mais desesperador, e nesse momento a risada do público talvez se origine de um território confuso que é misto de graça e nervosismo). Ou então é possível citar alguns momentos patéticos e engraçadíssimos tais como aquele em que a histérica e nervosa Elvira volta bêbada e bamba da festa e não consegue encontrar a chave de casa, perde a paciência consigo mesma e, no fim das contas, acaba por dormir no elevador, como se fosse a Lady Di em um aposento confortável.
Além de um texto excelente, onde os momentos ótimos se proliferam continuamente, Paula Cohen tem êxito em transitar por entre os personagens por ela vividos, assim como passa de momentos engraçados de sua protagonista para aqueles que são mais introspectivos. A atriz consegue construir uma protagonista que, mesmo que passando por um dos momentos mais dramáticos de sua vida e sendo intimada a refletir sobre sua condição, sofrendo-a, portanto, ainda assim não se leva tão demasiadamente a sério e é capaz de rir de si mesma, convidando-nos para lhe fazer companhia. No final das contas, é como se Elvira fosse nossa amiga íntima, de quem tínhamos saudades e que enfim volta da Argentina e com quem temos muito assunto e muitas pautas para colocar em dia.
A trilha sonora, enfim, também merece destaque e está a cargo de Pedro Granato, que traz cantoras contemporâneas tais como Tulipa Ruiz, Ana Cañas e Letuce, com canções fazendo a correta mediação entre cenas e momentos diversos da vida da protagonista.
Ficha técnica:
Espetáculo: As lágrimas quentes de amor que só meu secador sabe enxugar
Elenco: Paula Cohen
Texto: Paula Cohen e Pedro Granato
Direção: Pedro Granato
Luz: Karine Spuri
Figurino: Paula Cohen
Trilha Sonora: Pedro Granato – com músicas de Tulipa Ruiz, Ana Cañas, Barbara Eugênia, Letuce, Irene Cara e Billy Idol
Cenário: Pedro Granato
Fotos: Priscila Prade e Ding Musa
Produção: Victoria Martinez
Assessoria de Imprensa: Lu Nabuco Assessoria em Comunicação
Serviço:
Estreia: 3 de outubro
Temporada até 24 de outubro.
Horário: Sábados às 23h
Local: Teatro do Leblon – Sala Marília Pêra
Rua Conde de Bernadotte, 26 – Leblon, Rio de Janeiro – RJ, 22430-200
Tel.: (21) 2529-7700
Ingressos: R$60,00 (plateia) / R$40,00 (frisa)
Faixa etária: 14 anos
Capacidade: 408 lugares
Gênero: Monólogo / Comédia
Duração: 70 minutos

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